Rua de Mão Única

"Para os grandes, as obras acabadas têm peso mais leve que aqueles fragmentos nos quais o trabalho se estira através de sua vida" - Walter Benjamin

sexta-feira, outubro 14, 2005

 
The Dorrs - Tiago Phelipe

Era isto um caminho?

Alguns caminhos são infinitos.

Caminho de volta. Depois de tanto tempo pode dizer-se que finalmente estou no rumo certo. Sim, porque depois de tanto tempo indo na direção contrária é surpreendente, quase ridículo, que ainda esteja procurando recomeçar. Que loucura! Para mim o caminho era um só. No início tudo parece muito simples: partindo-se do ponto A e, seguindo-se as indicações 1, 2 e 3, atinge-se o ponto C. Agora, do ponto de vista de que a existência Dele não é certeza, então caberia aos investidores duvidar; afinal, o Senhor de todas as coisas pode estar em qualquer lugar. Mas isso é irrelevante quando você é encarregado de uma missão. Porque criancinhas são mortas, calamidades acontecem, empresas são levadas à bancarrota e Ele não aparece? Não dá um sinal de vida? Alguma coisa está errada. Sim, se todos os caminhos conduzem ao mesmo destino, então porque até agora não cheguei a lugar nenhum? Acho que cabeças vão rolar. Investidores gostam de resultados. Não posso simplesmente voltar sem respostas. Isso seria o fim do mundo! Onde é que estou errando? Talvez tenha calculado mal o tamanho da empreitada, pouco depois de ter cruzado a primeira ponte? Antes ou após ter levado o derradeiro tombo? Ou será que poderia ter tomado um caminho mais curto ou encurtado o caminho metendo uma bala na cabeça?


(do livro "Perambulando pelo caos" - série - interioridades # 11)




quinta-feira, outubro 13, 2005

 
Ce tremblement, une secousse - Pedro Peralta

Mostrador

Aqui é assim: chorou, dançou. Não tem desculpa, não tem perdão. Qualquer movimento, por mínimo que seja, é o olho da rua. E nem adianta explicar. Qualquer tipo de explicação seria inútil. Afinal, quantos não gostariam de estar no meu lugar? Quem nasceu não tem jeito, precisa topar qualquer parada. Às vezes, devo confessar, me dá uma vontade louca de estourar com tudo, pedir a conta e procurar outra condição menos estática. Mas pra onde eu iria? Pensando bem, acho que sou uma pessoa de sorte. Quero dizer, até agora nunca me colocaram de quatro, tampouco fui submetido a maus tratos. Ou seja, cortando em miúdos, deixando de lado as dores nas juntas ou os olhares desdenhosos dos passantes, não é um trabalho ruim. Talvez um pouco monótono. Talvez um pouquinho sem graça. Talvez um tanto bizarro. Talvez um tanto parado?


(do livro "Perambulando pelo caos" - série - urbanidades # 11)


terça-feira, outubro 11, 2005

 
Entrevistas

Eu queria avançar para o começo. (Manoel de Barros)

Sim, não sou cego. ouço muito bem. pode dizer a verdade, agüento o baque. Não, ainda sou forte. veja: repare como consigo levantar esta cadeira. vê? minha saúde é perfeita. nem parece que tenho... Sim, não quer que eu me mexa? Você é quem manda. Sim, não dou nenhum trabalho. qualquer canto me serve. basta um pratinho de comida, um pote de água. o resto é resto e não me faz a menor falta. Sim, não precisa gritar. afinal, quem sou eu pra fazer exigências? Você é quem manda, graças a deus. Sim, meus dentes estão em excelente estado. veja: repare como consigo arrancar um bom naco do meu antebraço. vê? minha carne é boa, ainda dá pro gasto. Não, quem disse que dói? quem disse isso pro Senhor, com toda certeza, mentiu. Sim, não precisa berrar. afinal, quem sou eu pra julgar?

(do livro "Perambulando pelo caos" - série - urbanidades # 10)

segunda-feira, outubro 10, 2005

 
Remissão

Ele apenas esperava. Na verdade, todos os dias. Uns diziam que era louco, outros lhe devotavam fé. Alguns acreditavam, muitos desconfiavam e poucos não achavam nada. Ninguém chorava aos seus pés, mas também ninguém ria na sua cara. Até mesmo a família não sabia o que pensar ou como agir. Não era promessa, tampouco doidice. Sempre fora altivo, cordial e prestativo. Homem bom, trabalhador. Alguns diziam que a culpa era dos transtornos na natureza, outros atribuíam à desordem no mundo e muitos achavam que a culpa era mesmo da televisão. Como em toda cidade, as pessoas falavam, comentavam, julgavam. Ele apenas esperava.

(do livro "Perambulando pelo caos" - série - interioridades # 9)

domingo, outubro 09, 2005

 
Arqueológicas
I
Agressão Cortês

É preciso ir fundo, descer até as entranhas.

Dizem que sou estranho, mas não acredite, é tudo mentira. Vou repetir e, se preciso for, até gritar. Já cansei de explicar porque não sei dirigir, tampouco beber até vomitar. Deixa estar, certas coisas navegam mesmo em direção contrária; opostos, veja só, nem sempre se atraem. Minha cara, no final das contas, não vai implorar nem pedir perdão. Então, pra quê gastar tanta energia? – bater boca é desperdiçar saliva. Posso fingir, mas não posso deixar você comprar meu coração.

(do livro "Perambulando pelo caos" - série - amores # 3)
II
Cortisona

O gato mia. O cachorro late. O papagaio grita. Mas a questão é: preciso terminar de escrever um romance, escanear uma dezena de documentos, despachar um batalhão de e-mails, ler uma quantidade considerável de textos – comentar, resenhar, criticar e, meu Deus, meu Deus, meu Deus! Onde enfiei minha cabeça? Cadê o coração e a bendita terra prometida na minha infância? Quando é que vou conseguir encontrar alguém desse jeito? Assim não dá, não dá, não dá! Eu também preciso de um pouquinho de atenção.

(do livro "Perambulando pelo caos" - série - interioridades # 8)

hisTórico

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