Rua de Mão Única

"Para os grandes, as obras acabadas têm peso mais leve que aqueles fragmentos nos quais o trabalho se estira através de sua vida" - Walter Benjamin

sexta-feira, dezembro 02, 2005

 

Olá Bebê... - Isidro

Dona Ilda vai às compras

A promoção era clara, claríssima. Nada de letras miudinhas, nada de venda casada. Escrito em letras garrafais o folheto afirmava categoricamente: Compre 1, Leve 2. Enfim, uma oferta justa, justíssima. Sem demonstrar ansiedade, tampouco receio, dobrou o folheto, colocou-o dentro da bolsa e pegou o primeiro ônibus em direção ao centro da cidade. Que alegria, que felicidade. Logo teria em seus braços não apenas um, mas dois belos exemplares da espécie. Enquanto a condução percorria ruas e avenidas, Dona Ilda traçava planos, rotas e destinos para suas futuras crias. Já se imaginava sentada na poltrona da sala, aninhando e protegendo com todo amor maternal aqueles dois seres indefesos. Apenas um detalhe a incomodava. Simples, mas de suma importância. Qual a cor? Vermelho, em hipótese alguma. Tampouco, amarelo. Preto? Arre, com toda certeza, nem de graça!

(do livro "Perambulando pelo caos"-série - urbanidades # 16)

quarta-feira, novembro 30, 2005

 
Z... O suspeito - Luís Lobo Henriques

Anexo Único

O homem alcança, escorrega para frente, dolorosamente, às vezes. Após um passo à frente, ele pode escorregar para trás, mas somente meio passo, e nunca um passo inteiro. (Steinbeck)

A Secretária de Saneamento berra, adverte, grita e reitera: Qualquer espaço livre, inalienável, assim reconhecido pela lei, que se destine ao uso comum da população, ao trânsito de veículos, à comunicação ou separação de zonas urbanas, deverá ser desimpedido, desobstruído, desentupido de qualquer entulho. Nada de barracas, moradias ou estabelecimentos improvisados. Nada de colchões mofados, crianças sarnentas, mulheres fedorentas ou homens rotos. Nada de construções de madeira, papelão, cobertor ou plástico. Todo e qualquer sujeito determinado ou indeterminado, oculto ou simples, residindo em logradouro, praça, rua, viaduto, avenida, calçada, bueiro, alameda, beco, fenda, buraco, antro ou cava, deverá ser capturado, arrastado, cadastrado e despachado para além do limite geográfico da cidade. Toda e qualquer pessoa estranha, colorida, mal vestida, contraditória ou mesmo invertida, deverá ser proibida de imaginar, sonhar, amar, gozar ou mesmo desfrutar de qualquer resto, restolho ou resquício de dignidade – seja no presente, no passado ou no futuro. Dê-se ciência, publique-se e cumpra-se.

(do livro "Perambulando pelo caos"-série - urbanidades # 15)

domingo, novembro 27, 2005

 
Uma extensão - Daniel Camacho

Sob o céu de Higienópolis

Subo nesta torre para observar os arredores, o horizonte, a paisagem ou, como dizem os estrategistas, o perímetro. A função é simples, quase monótona. Nada entra, nada sai que eu não saiba. Seja homem, seja mulher. Seja alto, seja baixo. Grande ou pequeno, ninguém escapa a minha observação. Ora, como uma pessoa de bem, cumpro com meu dever. Afinal, daqui todos são iguais e, como não posso deixar minha família à mercê dessa gente sem nome, sem eira nem beira, toda atenção é pouca. Por isso, quando é preciso alertar, denunciar, ou até mesmo abater, não titubeio. Nestas horas, o que importa é a segurança do meu povo.

(do livro "Perambulando pelo caos"-série - urbanidades # 14)

hisTórico

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