Rua de Mão Única

"Para os grandes, as obras acabadas têm peso mais leve que aqueles fragmentos nos quais o trabalho se estira através de sua vida" - Walter Benjamin

sábado, setembro 02, 2006

 

Ponto zero

Ao meio-dia de um dia insuportavelmente quente, abafado e seco, saltava de um carro vermelho, na altura do número doze mil e quinhentos da avenida S, zona Leste da cidade de P, trajando um longo vestido azul turquesa, muito pancake branco na cara, olhos cintilantes, vasta cabeleira lilás, sapatos tipo plataforma, meias com as cores do arco-íris, esbanjando disposição, uma criatura da noite. Espalhafatosa, imponente, majestosamente divina, enquanto fechava o trânsito, entre voltas e saltos, convidou a todos para cair no meio da pista. Parados, estáticos, mudos e calados, o povo um povo só delicadeza; acostumado ao sobe e desce das lotações, ao concerto frenético do ir e vir, desconfiado, matutou. Por acaso, estava doido? Dançar? No meio da semana?

(ilustração - As crianças de Sebastião, Fátima Miranda)

domingo, agosto 27, 2006

 

Faixa de Pedestre

Desde pequeno, quando ainda nem era gente grande, cofiava os dias numa correria danada, ora uma manhã aqui, outra acolá. Tudo provisório. E seguiria adiante nesse sufoco se o acaso não lhe tivesse acenado com a promessa de dinheiro fácil. Rapaz esperto, não pensou duas vezes. Oferta irrecusável. Oportunidade única. Nada de carteira registrada. Nada de fundo de garantia. Nada de chegar zerado ao final do mês. Para cada serviço realizado, dinheiro vivo na mão. Exigia-se apenas agilidade e muita discrição. Coisa simples, descomplicada. Quando receber a mensagem, já sabe… Basta pegar o pacote e deixar no local combinado. Entusiasmado, nem quis saber o que transportaria.

Os carros passavam entre ele e a agência bancaria. Enquanto zunissem no asfalto, sem chance. Interrompido pelo sinal de pare, tinha jeito não. Atrasadíssimo, por mais que quisesse era impossível atravessar. Ora, logo na primeira entrega? No mínimo, seria repreendido. Porém, fazer o quê? Conteve-se. Celular no bolso, encomenda na mão. O ar quente, seco. Por onde andava os irmãos naquela noite? Olhou para um gigantesco luminoso. Oh, sim, um dia ainda teria uma televisão de plasma. Uma jovem também esperava o semáforo abrir; muito parecida com sua namorada.

Aberto o sinal, não perdeu tempo. Ligeiro, desajeitadamente rápido demais, seguiu o fluxo de pedestres. No meio da travessia, nada viu ou ouviu, sentiu apenas um vigoroso e silencioso baque; e como num passe de mágica, sobrepujou em muito os céus da grande metrópole.

Onde você estava na hora? - perguntaria um repórter para uma senhora de fino trato, indignadíssima com a falta de segurança.

(ilustração - Serie Afriacana 3 - Miriam Rubino Rinck)

hisTórico

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