Rua de Mão Única

"Para os grandes, as obras acabadas têm peso mais leve que aqueles fragmentos nos quais o trabalho se estira através de sua vida" - Walter Benjamin

terça-feira, fevereiro 14, 2006

 
Vacas y Hombres - Edgar Leon

O senhor da rua

Nunca sorri, quando muito levanta as sobrancelhas. Jamais diz bom dia, tampouco boa noite. Dele ninguém escapa ou consegue se esconder por muito tempo. Tem olhos de lince e de longe fareja a sua presa. Gosta de caçar crianças para o café da manhã, devorar mulheres no almoço e cozinhar em fogo brando os homens para o jantar. Nos finais de semana, após comer, beber e fumar até os cornos, senta-se no topo do edifício mais alto do planeta. De lá, atento, vigilante e cauteloso, observa com muita satisfação o frenesi da multidão a transportar nas costas sacos e mais sacos de carne seca. De lá, atento, vigilante e cauteloso, sacode sua enorme pança e cospe com muito gosto na cara dos covardes.

(do livro "Perambulando pelo caos"- série - urbanidades # 20)

Comments:
sabe que me lembrou os meninos com que eu trabalhava na rua? um destes que se mostrava em cada menino que se escondia...
nas escondiduras de si mesmos morava a dor do menino que não puderam ser...
viajei né?
um beijo
 
forte isso...

beijo
 
senhor insone.
 
Um conto antropofágico, parabéns!

http://dudu.oliva.blog.uol.com.br
 
êta, que livro é este? muito irônico e complexo. por consequência, muito bom

abraços
rubens
 
, antropofagia pura! como diz oswald "só a antropofagia nos une"

|abraços meus|
 
covardes precisam de cuspe. nunca precisaram tanto... adorei esse texto e a ilustracao. hátraços sr. luz.
 
Eis que o senhor das palavras tmabém cospe...Bjos.
 
O cuspe é um antecessor da mordida que devora ou a marca dos "não escolhidos" para a ceia do senhor (da rua)? Mais um texto intrigante, Cláudio. E obrigado pela passagem no Albergue. Mas receio frustrar sua expectativa: a de que os caminhantes tenham aonde ir. Um abraço!
 
Esse já foi colado nos meus favortios. Parabéns por ele!
 
Não deve ser só o senhor da rua, seria o senhor dos homens?
Se ele existisse estaria assistindo a comédia sarcástica do homem e se mijando de rir de nós.
 
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