Rua de Mão Única

"Para os grandes, as obras acabadas têm peso mais leve que aqueles fragmentos nos quais o trabalho se estira através de sua vida" - Walter Benjamin

quinta-feira, outubro 27, 2005

 
Sem Título - Paulo Araújo

Desjejum

Não te esqueças, sejas rápido, antes que alguém apareça. Rasgue, triture, devore. Preste atenção, não se descuide. Olhe para os lados, verifique: Veja, ouça, sinta. Quando o apito tocar e os sinos repicarem sete vezes, eles que se fodam. Lembra-te da tua mãe, do teu pai, dos teus irmãos. Lembra-te do luar do sertão. Lembra-te dos teus amigos, das rugas do teu avô, dos cabelos brancos da tua avó. Lembra-te de ti quando menino, descalço, correndo no escuro, sem camisa, sem história. Lembra-te de ti na hora da partida e no momento da chegada. Então, o que você está esperando? Sejas ousado, veloz. Você ainda é necessário. Você ainda faz parte desta roda. Deixe de lado a vergonha, deixe de lado a boa educação. Coma tudo, até os ossos. Não pare. Não estanque a vontade. Sorva, lamba, roa até não sobrar nada: nenhuma migalha, nenhum farelo. Quando terminar, levante as mãos para o céu e agradeça se acaso encontrar mais um bocadinho espalhado pelo chão.

(do livro "Perambulando pelo caos" - série - urbanidades # 13)

Comments:
Exatamente, ousar, eis a questão!!!!!!!!!!
 
"Lembra-te de ti quando menino, descalço, correndo no escuro, sem camisa,": sim.

ótimas sugestões no teu texto.

com braços que abraçam,

Carlos
 
No imperativo, sem dó. Abs.
 
Claudio, seu texto é veloz, como esse menino que não tem medo de viver. Belo texto, tudo nele é tão cintilante e rápido.
 
Imperativo como a vida. Já vou começar a obedecer cada uma das ordens.
talvez não dê tempo para o agradecimento.:)
abraços
rubens
 
só mais um comentário: acho que enquanto eu estava aqui andando nesta rua de mão única, vc estava hospedado na casa de paragens. obrigado pelo comentário e sentimento de espanto é recíproco.
abraços
rubens
 
Claudio, quem lê, geralmente não exige nada além do que se lê.Talvez um pouco mais, um pouco menos. Abre-se primeiro com uma afirmativa para depois ir escorregando sobre outras constatações de ordem imperativa. O cidadão não é uma mera pessoa, embora tenha sido comprado: suas horas.Antes de tudo, é a sobrevivência, teimando em soterrar o passado.Certamente sempre será necessário escavar.Abraços.
 
Não é desjejum..é gula...rs
Bjos, moço!!
 
devorar a vida! aí lembrei dum poema: "é como quem come, não mais o pão, mas a fome" (Thiago de Mello) um beijo
 
Olá, luz, como anda tudo dentro do seu "mundinho", que é seu blog...
espero q na santa paz, mas do lado de fora o mundo ta pegando fogo, não aguento mais, tanta bagunça no país... bom, mas em relação a seu texto, como sempre é de tirar o folego...
bom, vou ficando por aqui... obrigada por visitar o fdemocratico.
beiujão
 
Lembra-te de ti quando menino, descalço, correndo no escuro, sem camisa, sem história
 
Como sempre um belo conto.
 
"você ainda é necessário"... assustador e verdadeiro. por isso, é bom aproveitar esse "ainda" e fazer o dejujum: ousar. ;)

uma beijoca!
 
quero mais é q alguém apareça.
 
Você é uma mestre da narrativa curta.
 
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